segunda-feira, 27 de maio de 2013

Resquícios de "um" nada...

Hoje, na hora do almoço, percebi o quão levianos são os sentimentos que, por vezes, vem me assombrar.
Sentimentos esses que me fizeram constatar uma certeza já anunciada a zerentos anos: o mundo dá voltas.
E deu, graças a Deus, pelo menos para mim.

Eu estava ali, parada em um sinaleiro, inerte às parafernalhas do Adriel, quando resolvi paquerar o moço do carro de trás.
Quando o sinaleiro abriu, a constatação: avistei um adesivo conhecido na traseira do carro.
Merrrrrrrrrrrrrrrda.

Mais tarde, sentada em um sofá, encontrava-se a origem de tudo aquilo.
O pensamento foi ao longe. O meu, claro. Será que sairia dali toda aquela indiferença?
A maldade? A falta de amor com o próximo?

E... O mundo mais uma vez completou sua volta. E quando me dei por mim, estava ajoelhada em frente a um altar.
Sim, você leu altar. Fui rezar. Rezar por mim, pela vida que perdi tentando escrever um conto de fadas impossível.
Os outros contam com personagens comuns: lobo mal, sapo, princesa... Nesse só existe a mim.

E assim ele chega ao final, e como todo final encantado: vou ser feliz para sempre.

Amém...

domingo, 31 de março de 2013

Resquícios de pausa


Chega uma hora que temos que parar.
Parar pra pensar. Parar de pensar.
Já pensei tanto que cheguei a conclusão de que devo começar a fazer as coisas assim, sem pensar.

E sem pensar chego a conclusão de que tenho que parar pra amar. Ou seria melhor parar de amar?
Sim, perdi muito tempo parada no mesmo lugar, jogando todo meu amor fora.
Parei de amar. De te amar.

Assim, parando, é que consegui força para recomeçar.
Aos poucos fui percebendo o que realmente vale a pena, o que vou guardar para o resto da vida e o que eu não devo deixar mais fazer parte dela.

Depois de ter estacionado na contra mão, de ter parado pra pensar, de pensar, parado pra amar e ainda parado de amar, agora é hora de iniciar uma nova caminhada.

Acho bom sair do meu caminho, pois toda vez que paro, volto com tudo. Te encontro lá na frente, já sei que vai comer muita poeira minha.
Beijo.


terça-feira, 19 de março de 2013

Resquício de 1 mês.

Um mês. Hoje se completam exatos trinta dias. Ou seriam setenta e cinco?

Um mês de silêncio. Trinta dias sem uma palavra sequer. Setenta e cinco dias mergulhada no mais absoluto vácuo. Isso por minha causa.
 
Silêncio esse recheado de cores, dores e um único amor. Um silêncio teimoso, que não quer calar, que de tão tolo grita dentro de mim, mas que não é ouvido por ninguém. Não pode ser ouvido.


Um silêncio traduzido em cores. Cores de tons fortes, que pulsam, que queimam. Vermelhos. Que fazem um perfeito contraste com o branco da pureza que nele existia. Não, não existe mais.
Mas nem tudo que existia ali se foi.

Ainda sobram as dores. Elas são as únicas que teimam em contrariar as regras e fogem do silêncio. Do silêncio escapam com os gemidos contraditórios, ora de dor, ora de alívio. O soluçar do choro faz companhia as respirações ofegantes e ao riso descontrolado, que tenta disfarçar enlouquecidamente a lágrima que escorre pelo rosto já sem o sofro de vida.

E as dores da alma? Essas não falam. Essas não tentam fugir. Essas apenas sussuram. Além disso elas ainda martelam o corpo já fadigado. Uma briga em vão, mal percebem elas que eu já me dei por vencida.

O amor. Ah, o amor. Seria esse o único e verdadeiro amor que conheceria em minha vida? Um amor que vem de dentro. Que é verdadeiro apenas por existir. Sim, seria e não será mais. Existiria. Com ele eu também acabei. Sim, eu acabei.

Um mês.

Trinta dias. Se somadas temos setecentas e vinte horas do mais vil arrependimento. Arrependimento esse que vem acompanhado de tantos outros sentimentos e que misturados a todos os hormônios possíveis, e desconhecidos, transformam tudo.

Os sentidos se perdem. O que era certo nunca foi. E o errado? Esse sempre se atribui a mim.
E você? Peça extremamente fundamental para o começo de tudo se encontra apenas no meio para o fim. Sim, é no meio para o fim.

Trinta dias.

A soma exata do meu suplício. Que por definição de Michaelis significa, além de outras coisas: grande sofrimento moral; aflição intensa e prolongada. Sofrimento cruel; grande tormento.

Setenta e cinco.

Por mais que seja extenso. Por mais que seja duas vezes e meia maior que o primeiro período. Por mais que fosse só. Por mais que fosse apenas. Por mais que fosse egoísmo, loucura. Por mais que fosse... deveria ser.
Ser só. Apenas ser. Ser... e não era.

Era tudo meu, do corpo à alma.
Tudo meu, desde a decisão do sim à renúncia do não.
Era. Foi. Deixou de ser.
Passado.
Isso por que resolvi incluir, em uma linha deste texto, você.

Você que só estrelou por cinco dias, cento e vinte horas e nenhum, minuto a mais. Nenhum segundo a menos. Você que "transformou" o meu céu azul e um mar vermelho sem fim.

Você, que se somado a mim, não é nada. Eu, que quando somada a você, era isso.
E eis que voltamos ao era.

Foram quarenta e cinco dias.
Se foram mais trinta dias.
Ao todo setenta e cinco.
Para mim os quarenta e cinco primeiros foram divinos. Mesmo sem saber. Compreender. Querer. Ser.
Os trinta que se seguiram foram, e sei que continuaram sendo, vazios.

Pra você? Tudo se resume a nada. Assim você foi, assim você é, assim você será.
Nada.

quinta-feira, 7 de março de 2013

Resquícios de perda

Hoje meus pensamentos voltarem a me atormentar.
Voltaram a relembrar daquele dia. Daquela noite e mais uma vez, chorei.

Senti de novo a dor. Aquela mesma dor. Que não para, que não passa e que, ao mesmo tempo, não existe. A dor pela renúncia do sim. A dor pela escolha do não.
A dor comum a mim. A dor que não pude compartilhar com ninguém.
A dor que só você sentiu, mesmo sem saber.

O medo voltou a correr pelas minhas veias.
Um medo confuso, que não se deixa entender. Um medo sem cheiro, mas que incomoda, que me causa enjoo. Ora um medo com ar de alívio, ora uma sensação de culpa. Isso se traduz de apenas uma forma: medo do amanhã.

Culpa?

A dúvida voltou a surgir: por que?
E os por quês que se cruzam, não são capazes de responder a nenhuma das perguntas.
Não responde sobre a dor. Não é conforto para o medo e não se encontra com o começo de tudo. E ainda temos a culpa. Temos? Eu tenho.

Mas... onde tudo começou?
Pra mim: desde sempre. E sempre se traduz no dia em que os olhamos pela primeira vez.
Pra você: eis o começo. O começo do meu fim.
E para nóis dois?

Nós dois.

Uma equação matemática capaz de ser resolvida por qualquer criança de 6 anos.
Equação essa onde 1 + 1 é sim, e sempre foi, igual a dois.
Oque fizemos para que essa equação nunca chegasse a esse resultado ainda é uma incógnita.
Incógnita essa que continuará sem uma respota.

Já fizemos essa soma ser igual a 1. Assim como já fizemos ser igual a 3.
Hoje, depois de tudo isso descobrimos que a equação estava errada.
O certo seria 3 - 1 = 2.

Hoje somos assim, dois.
E que assim seja. Hoje, amanhã e sempre.
Te amo por tudo, te amo por nada, te amo apenas por não saber mais o que sentir.

Obrigada.

domingo, 3 de fevereiro de 2013

Resquícios de um sermão

Para conseguir um pouco de paz pro meu coração resolvi voltar a ir à missa.
Tenho ido, cada domingo, a uma igreja diferente, todas perto de onde moro, para assim escolher em qual vou passar a frequentar.
Na última terça-feira participei da missa dos formandos da Unirp. Foi lá que ouvi um sermão que ainda não consegui tirar da minha cabeça.

Sabe quando você escuta alguém falando alguma coisa e tem certeza que a ""indireta"" é pra você? Foi bem assim que me senti. O sermão do padre parecia ter sido feito para mim. Para o momento que eu estava passando, para responder às minhas dúvidas.

Não, não era, pois para ele, eu nem ali estava.

O padre, do qual não me lembro o nome, falava sobre o AMOR.
O amor aos pais, o amor à profissão, o amor que cura, o amor que ensina, o amor que dói e o que faz sofrer, e assim, aprender.
Falou sobre como o amor nos ajuda nas escolhas que fazemos e como devemos fazer nossas escolhas baseados no tal amor.

Falou ainda sobre perdoar a cada uma das pessoas que, por algum motivo, usaram o amor para atingir os nossos pontos fracos. E foi a partir desse ponto que a minha emoção falou mais alto do que as de todos os formandos presentes.

Sou muito assim. Baseio minhas atitudes nos sentimentos que sinto pelas pessoas.
Confesso que, na maioria das vezes, espero de mais de pessoas que não podem me dar nem o básico. Confesso ainda que perdoo quem nunca me pediu por isso ou quem não merece meu perdão.

Sabe por que? Eu não sabia até juntar o sermão de terça com o do de domingo passado.
Pessoas fortes são aquelas que perdoam pelo simples fato de perceber que a outra pessoa, aquela que te feriu de alguma forma, não é forte o suficiente para reconhecer o erro e pedir seu perdão.
Orgulho demais dá nisso.

Já fui uma pessoa extremamente orgulhosa, hoje reconheço meus erros e espero que as pessoas sejam como eu. Não são, nem todas, mas mesmo assim, espero.
Já ouvi pessoas falando mal de mim pelas costas e perdoei.
Já senti a dor de um (des)amor e não deixei de acreditar na pureza do sentimento.
Já passei por situações que jamais imaginei passar apenas por acreditar na pessoa errada.

Erro sim, e erro muito. Vivo de acertos e erros, assim como todos a minha volta.
Não vou deixar nunca de perdoar as pessoas quando elas erram e não assumem isso. A evolução não chega para todos ao mesmo tempo.
Eu evolui e espero que vocês evoluam também, um dia.

Beijos a todos e até o próximo sermão.

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Resquícios curtos

Hoje acordei muito mais cedo do que o normal.
E só acordei por que mais uma vez senti seu cheiro, ouvi seu sorriso, ví seu olhar pairando dentro do meu. É, mais uma vez era um sonho, do qual eu não queria despertar.



sábado, 5 de janeiro de 2013

Resquícios de Welber

A pouco me deparei com uma postagem no Facebook que não pude deixar de ler e pedir permissão ao seu redator para postar aqui. Escrita pelo jornalista Mario Welber e com trecho de outro colega de profissão, Ivan Martins, o texto fala sobre medo. Um medo peculiar que vem assombrando a muitos marmanjos por ai.

 

Ele não quer namorar?
Os homens e suas falsas convicções de felicidade...

Dias desses, na fila do banco, uma moça de aparentemente 20 anos, consternada pelo fim do namoro, reafirmava com convicção a uma amiga que “o cara da música só existe num lugar pra onde a canção foi feita: a novela.” Dentro dessa revolta cada vez mais comum da mulherada, que já começa, entre outras, a se preocupar com a raridade de ver homens que simplesmente sintam atração por mulher, eu pergunto. Será mesmo que a sociedade se pintou tão acinzentada que as melhores coisas da vida - justamente as mais simples - perderam seus matizes e sabores?


Passear de mãos dadas, ir ao cinema, rir e brigar de vez em quando, sentir um ciuminho e mandar torpedos inesperados (para a mesma pessoa) se tornou algo tão ultrapassado assim? 

Primeiro, não existe “solteiro convicto”. Se há solteirice existem também tédios e inquietações, além é claro, da expectativa quase irreal de encontrar o amor da vida sempre na próxima esquina. O cara pode até estar, mas jamais será um solteiro convicto. Pelo simples fato de ser humano, sentir a carência e a idade baterem às portas ele se tornara um dia, forçosa e inesperadamente, um solteiro “não tão convicto assim”.
Em 2013 completarei 30 anos de idade. Não só, portanto, minha idade amadureceu. Junto com ela também minha maneira de ver o mundo e observar o que nele há de mais interessante: as pessoas.
Dizem que somos várias pessoas em uma. Aos 15 anos pensamos de um jeito, aos 20 de outro, aos 30 de outro e por aí vai. Apesar dos valores vitalícios, crenças enraizadas e princípios inegociáveis que há em nós, somos realmente uma parcela de pessoa a cada época da vida. Vou, no entanto, nas palavras e com a ajuda do jornalista Ivan Martins, refletir sobre “o que realmente importa” em épocas de prioridades desencontradas, sonhos truncados e expectativas frustradas.

“O mundo parece estar cheio de homens que não querem namorar. Eles me contam isso, as mulheres que saem com eles dizem isso. Que o sujeito hesite em casar, ter filhos, financiar apartamento pela CDHU – tudo isso me parece compreensível. Esses são grandes passos e nem todos estão prontos para o compromisso. Mas namorar, tanto quanto eu sei, não dói. Andar de mãos dadas, viajar no feriado, ir ao cinema no sábado à tarde são atos no campo do prazer, não do dever. Não deveriam constituir um problema. No entanto...

Pergunte às mulheres e ouça o que elas têm a dizer sobre o assunto. Essencialmente, vão contar que os caras só querem o bilhete de ida. Estão a fim de uma viagem única. Se gostar do sexo, do agarro, do beijo, o sujeito volta; ou não. Tudo é negociado um dia de cada vez. Não há laços, nem fins de semana assegurados, muito menos exclusividade. Esta situação, que antes seria considerada transitória, agora pode durar indefinidamente. Do ponto de vista de algumas mulheres com quem eu tenho conversado, os relacionamentos ficaram parecidos com empregos precários: não há contrato, não há garantias e aviso prévio não existe. Pode acabar a qualquer instante, já que oficialmente nunca começou. É o amor terceirizado.
Da parte dos caras, a queixa é outra. “Eu não me envolvo”, eles reclamam. Sai moça, entra moça, e fica o mesmo vazio. A mulher que parecia espetacular perde o brilho em poucos dias. A empolgação inicial não se sustenta. Tudo se resume a um desejo passageiro, que pula de uma dona para outra. Como nada ganha relevo, tudo é igual a tudo. Então se trata, simplesmente, de administrar uma agenda com vários nomes. Isso inclui Facebook, celular e muitas horas vazias e solidão. Um dia a Fulana, outro dia a Sicrana, amanhã, quem sabe, alguém capaz de fazer diferença. Em cada uma delas, novidade e prazer. Nos intervalos entre elas, ansiedade e tédio. Entre uma e outra, angústia. 


Como eu já disse, não entendo muito bem essa dificuldade. Acho bom demais namorar. Melhor coisa do mundo, na verdade. Os primeiros meses de namoro são melhores que banho de cachoeira, melhor que pegar jacaré no fim de uma tarde de verão, melhor que ficar bebum em companhia de amigos queridos. No namoro a gente descobre (ou redescobre) que pode ser feliz, que o nosso romantismo não morreu, que existe dentro de nós um sujeito capaz de gestos arrebatados e pensamentos delicados, um cara que se lembra de comprar um presente inesperado e de mandar um poema no meio da tarde, pelo celular. Quem não gosta de sentir-se assim levanta a mão - e corre assim mesmo, de mão erguida, para o analista mais próximo!

Então, não acho que os homens tenham problemas com isso. Seria desumano. Minha impressão é que há dois tipos de situações, a simples e a complexa. A simples é realmente simples: ele não quer namorar você, mas não significa que não queira namorar em geral. As mulheres às vezes confundem. Criam fantasias sobre as dificuldades afetivas de um cara que apenas não está a fim delas, mas cai de quatro dias depois pela próxima mulher que entra na vida dele. Isso acontece o tempo todo. É do jogo. Levanta e vai à luta, menina.
Mas há outro tipo homem para quem namorar é realmente um problema. Entre ele e o oásis de ternura e erotismo chamado namoro caminha a besta vigilante da ansiedade. A fera peluda de olhos flamejantes impede o sujeito de se concentrar. Faz com que ele se disperse numa multidão de desejos conflitantes. Diante de tantas garotas, diante de tamanha possibilidade de prazer, o cara não consegue fixar sua atenção em ninguém. Quer tudo, deseja todas, e, por mais que obtenha, continua insatisfeito - porque há sempre mais ao redor. Sempre existe uma mulher mais bonita, mais sexy, mais interessante na próxima esquina. Se a bússola do coração está quebrada, seu dono nunca vai achar o Norte. É uma corrida sem linha de chegada. Mesmo sozinho e miserável, o sujeito seguirá esperando a resposta definitiva do universo às suas inatingíveis aspirações. Pode chamar isso de burrice, mas eu acho que é mesmo ansiedade e desassossego. Uma forma destrutiva de romantismo. 


As mulheres se julgam as criaturas mais românticas do planeta, mas talvez não sejam. Olhe em volta: diante de um cara apaixonado, bacana, determinado a ficar com elas, boa parte das mulheres sossega. O cara pode não ser perfeito, mas se torna “o cara”. Há nisso um pragmatismo que muitos homens perderam. Enquanto as mulheres escolhem de maneira apaixonada, mas com os pés no chão, eles parecem viver nas nuvens, sonhando com a mulher perfeita. Como ela não aparece, o cara vai testando uma atrás da outra, como se levasse um sapatinho de cristal no bolso. O padrão de exigência é elevado, opressivo talvez. Muitas vezes baseado apenas em aparência. Tem homem adulto se apaixonando pela mulher da capa de revista, por atriz de filme pornô, por modelo americana. Homens de 30 anos, eu digo. Homens de 40. Não há limite de idade para o desvario. Uma legião de barbados de todas as classes e graus de instrução vive à mercê de fantasias que bloqueiam as construções afetivas verdadeira. Como o sujeito vai namorar se a mulher da vida dele pode aparecer do nada na semana que vem? Se você está apaixonada por um cara assim, talvez seja melhor dar um tempo e esperar ele pousar na Terra. Pode demorar uns aninhos.

O Alain de Botton, que virou meu guru nesses assuntos, lembra que ali pelos 40 anos o sujeito já começa a perceber que vai morrer, e isso acrescenta a tudo que ele faz uma tinta de urgência. Sobretudo no sexo. Antes de empacotar, antes de ficar broxa e caído, é preciso aproveitar a juventude – dos outros. Esse sentimento é forte. Se o jovem quer todas as mulheres do mundo porque está nadando em desejo e inexperiência, o mais velho sente o mesmo porque acha que está saindo de cena e tem fome de vida. O período de maturidade masculino, essa quimera científica, fica cada vez mais curto, espremido entre duas áreas de insensatez em expansão. 


Claro, não há dois homens iguais. O roteiro que eu descrevo não vale para todos. Talvez valha só para uma minoria ruidosa. A maioria – quem tem essa estatística? – deve estar feliz agora mesmo, encomendando na internet um presente para a namorada. Ou planejando uma viagem romântica de Ano Novo com ela. Não sei. Olho pro mar e vejo apenas quem está se afogando – e são muitos. Se eu pudesse dizer alguma coisa para eles, diria “pare, respire, comece alguma coisa”. Escolha alguém que toque os seus sentimentos e se deixe ficar ao lado dela. As mulheres, quando querem, quando nós deixamos, têm um jeito gostoso de nos fazer felizes. Pode não ser para sempre, mas quem se importa? A vida é um dia de cada vez – e eles são melhores quando a gente está namorando.”

Não que precisemos, necessariamente, de alguém para sermos felizes; mas pelo simples fato de que só se é feliz quando dividimos o nosso melhor com alguém.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Resquícios 'in memorian'

Parecia que quem estava indo para a forca era eu. Aquele choro contido, lágrimas que escoriam pelos olhos sem que pudesse evitar, a dor no peito, frio e calor ao mesmo tempo, angústia, remorso. Vou embora. Não podia. Não dependia só de mim.



Ele responde o que é certo responder, mas percebo que se pudesse, a resposta seria outra:
- É pro bem dele, não adianta adiar a dor. A decisão só cabe a você, ele já se entregou.

A partir daquele momento um filme em preto e branco passa por diante dos meus olhos. Rabo cortado, cirurgia na orelha, injeções, cálcio, ração, vitaminas, coleira, bola, chinelos... Fotos, festas, fatos que jamais esquecerei.
 
Monólogos longos, intermináveis e incompreensíveis. Amigo, parceiro, companheiro.
Cão...
Me veio também as dores ao andar, a falta de apetite, a fraqueza, a magreza, a tristeza no olhar. Tristeza que se transformou em alivio quando percebeu que sua dor terminaria.


Fim. 13 anos se resumiram em alguns minutos. Minutos esses que vão me acompanhar pra sempre. Chamei, e ele respondeu com a mesma alegria de sempre. Levantou como se já não sentisse mais dor, se dirigiu a sala nomeada por enfermaria e "sorriu" pra mim, como se agradecesse o que eu estava fazendo.

O homem vestindo branco o colocou na maca, pulsionou uma veia, deu-lhe soro e anestésio.
Dormiu...
 
Vendo-o ali, deitado, sem se mexer, meu corpo ficou leve, minha cabeça vazia, meu coração parou de pulsar, e no lugar dele, eu deixei de existir. Bastou uma segunda injeção, para que seu coração parasse de bombear sangue.

Meu cachorro morreu, nos meus braços. Minutos de silêncio depois, a confirmação do homem vestindo branco me deu uma certa paz:
- Realmente não tinha mais jeito, ele tem um tumor no pancrêas, hepatite, aquele velho problema renal e desenvolveu uma hemorragia interna. Esteja ele onde estiver, está feliz com sua decisão.

Eu, ainda em estado de choque, sai da mesma forma que entrei: com o meu cachorro, mas em condições diferentes. Antes ele com dor e andando, agora sem dor, mas dentro de um saco preto.

É debaixo do parreiral que descansa seu corpo, é do céu dos cães bonzinhos que olha por mim. Ainda escuto seus passos pela casa, ainda tem pêlo seu nas minhas roupas.
A casa ficou grande, escura e vazia sem você. Além de cão, um grande amigo.

Obrigada pelos 13 anos de lealdade, Lesther.